Introdução
Um dos maiores clássicos da literatura do século XX e também de muito sucesso entre os leitores até os dias atuais é o livro 1984, escrito por George Orwell em 1948. O livro nos mostra uma realidade que o autor acreditava que não estivesse muito distante. Na visão de Orwell, estaria por vir um mundo totalmente controlado, de forma que a vida que se conhecia naquela época mudaria totalmente devido a opressão dos governantes.
Neste trabalho, será apresentada uma parte do enredo da obra, constando alguns acontecimentos muito importantes no desenvolvimento e também para o desfecho do livro. Após esta etapa, serão mostradas situações do nosso cotidiano que podem ser comparadas a acontecimentos do livro, todos devidamente explicados e com suas fontes constando nas referências do texto.
O enredo
Depois da Guerra Fria o mundo foi dividido em três grandes potências: A Oceania, a Eurásia e a Lestásia. A Oceania, país onde a história se passa, é totalmente controlada pelo Partido que tem como líder o Grande Irmão. Seu rosto sempre está estampado em milhares de pôsteres espalhados por todo lugar. É um homem com aproximadamente quarenta e cinco anos, possui um bigode preto e feições rudemente agradáveis, conforme a sua descrição no livro. Sempre unida à figura do Grande Irmão havia a frase que acompanhava cada pessoa ao longo de sua vida: “O Grande Irmão está de olho em você”.
Cada morador possui uma teletela em sua casa, equipamento que serve tanto para transmitir mensagens quanto para vigiar os cidadãos. Londres é a capital do país, e é lá onde se encontram os quatro Ministérios encarregados de manter o controle da vida das pessoas e a situação do país em ordem.
O Ministério da Fartura em termos práticos é responsável pela economia do país. Enquanto os cidadãos ficam felizes em saber que o país cresce muito em nível de produção e renda, na verdade têm seus alimentos cada vez mais reduzidos e com preços cada vez maiores.
O Ministério do Amor é para onde as pessoas que cometem “pensamento crime” (expressão que se originou da novafala, língua oficial do país) vão. Aquelas que não concordavam com as ações do Partido e pretendiam ter atos de revolta, desapareciam da história e tinham seus nomes apagados de todos os registros. Elas eram vaporizadas, essa era a expressão. Às vezes eram torturadas, outras ocasiões eram postas em campos de trabalho forçado por vários anos, ou simplesmente acabavam mortos. Mas antes de terem sua vida extinta, o Ministério fazia uma espécie de lavagem cerebral nos infratores, pois para o Partido, não bastava apenas eliminar a oposição, e sim convertê-la.
O Ministério da Paz é responsável pela Guerra. Para o Partido, a guerra contra os seus inimigos, tratando-se da Eurásia ou da Lestásia, é uma forma de domínio da população também.
O Ministério da Verdade é responsável pela falsificação de documentos e a modificação do passado sempre que for necessário, para que seja possível provar que o Partido nunca errou e nem mentiu. Como citado na obra, caso fosse publicado no jornal a notícia de que seriam produzidos cento e quarenta e cinco mil pares de botas em determinado ano, e na verdade a produção chegasse a apenas sessenta e cinco mil, os funcionários deveriam encontrar todas as referências que pudessem provar isso e destruí-las. Após isso reescreviam as notícias que destruíram, de forma que parecesse que a meta foi alcançada e abundantemente superada.
O personagem principal da obra é Winston Smith, um homem com mais de 40 anos, morador de Londres, de aparência comum e que trabalha para o Partido, mesmo sendo secretamente contra os seus princípios.
Certo dia, andando na redondeza onde moravam as pessoas mais pobres, chamados de proletas, entrou em um antiquário e resolveu comprar um diário e uma caneta, objetos que eram de comércio proibido pelo Partido. Chegando a sua casa, foi até o único canto em que a teletela não poderia vigiá-lo e começou a escrever no diário. Ele precisava desabafar com alguém sobre os seus sentimentos em relação à situação em que vivia. No início não sabia bem o que poderia escrever, pois aquela era a prova que poderia levá-lo a vaporização no Ministério do Amor. Começou descrevendo uma ida ao cinema, contando sobre um novo filme que havia visto. Mas não era esse o objetivo, o assunto a ser relatado era totalmente diferente. Até que tomou coragem e uma das primeiras coisas que escreveu em seu diário foi “Abaixo ao Grande Irmão”.
Em outra ocasião, durante um passeio, Winston resolve voltar ao antiquário onde comprara o diário e a caneta. Esperando ver mais antiguidades, fica surpreso com o que o dono do estabelecimento lhe mostra: um quarto totalmente mobiliado, e sem teletelas. Winston, feliz e distraído ao sair do local, percebe que estava sendo seguido por uma mulher e desconfia que ela seja uma espiã o vigiando.
No dia seguinte, passa pela mesma mulher durante o seu período de trabalho no Ministério da Verdade, ela finge uma dor para desviar a atenção das teletelas e entrega a Winston um bilhete que estava escrito: “Eu te amo”.
As regras do Partido sempre deixaram claro que membros do mesmo, não deviam se comunicar a não ser a respeito de trabalho. Por isso, os dois passaram semanas sem trocar nenhuma palavra, e só após conversas curtas em locais públicos decidiram marcar um encontro, longe das teletelas e dos microfones escondidos. No encontro, Winston descobre o nome de Júlia só depois de beijá-la, e ela confessa que ficou atraída por ele, porque seu rosto parecia ir contra o Partido. Para continuar o romance às escondidas, Winston tem a ideia de alugar o quarto que viu no antiquário.
Algum tempo depois do início do romance, O’Brien, um membro interno do Partido, nota que Winston é diferente das outras pessoas. Ele convida Winston, para desviar a atenção das teletelas, para ir ao seu apartamento conferir a nova edição do dicionário da novafala. Winston fica animado, pois o convite de O’Brien era muito incomum e criou-lhe uma esperança de que uma suposta Confraria que era “anti Grande Irmão” existisse e que O’Brien fazia parte dela. Júlia acompanha Winston ao encontro, e para espanto do casal, O’Brien desliga a teletela do seu apartamento durante a visita, pois os membros internos do Partido possuíam esse privilégio. O casal confessa seu desejo de conspirar contra o Partido, diz que acredita na existência da Confraria e confessa a esperança depositada por eles em O’Brien. Eles brindam a Emanuel Goldstein, suposto líder da fraternidade, e dias depois Winston recebe o livro escrito pelo líder e começa a leitura da obra em seu quarto no antiquário.
No livro de George Orwell a população era controlada não somente pelas teletelas, mas também pelo seu pensamento. A melhor maneira de impossibilitar pensamentos mais elaborados e aumentar a vulnerabilidade ao Partido era a redução do idioma. Desse modo, o Partido criou a novilíngua, ou novafala como é citado em algumas edições da obra.
A novilíngua foi criada para substituir o inglês, mas acabou sendo de uso restrito pelos membros Partido, pois poucos eram os fluentes no novo idioma. Na novilíngua, os sinônimos eram eliminados e várias palavras foram unidas. A redução das palavras tornava praticamente impossível pensar de forma diferente do que o Partido desejava.
A palavra “inbom”, por exemplo, eliminava as palavras “ruim”, “péssimo”, “desagradável” e outras. As palavras se tornavam pequenas e poucas da mesma forma que o pensamento. Em uma passagem do livro, os editores da 11ª edição do dicionário oficial da novafala mostram-se orgulhosos, pois a edição mostra menos palavras que a anterior.
Comparando a redução do idioma no livro à redução do português atualmente, a ficção torna-se realidade. O internetês, o português reduzido ao extremo utilizado pelos internautas em salas de bate papo e programas de mensagens instantâneas torna-se cada vez mais presente em nosso país. Com o crescimento do número de computadores nas residências e conseqüentemente do uso da internet, o “idioma” dos internautas cresce rapidamente.
Neste “idioma” são cometidos absurdos com o português brasileiro. Desde abreviações de palavras como aqui (aki), comigo (cmg), você (vc) até mudanças em algumas, como querer (kerer), novidades (9vidades), vocês (vo6) entre outras.
Na novilíngua era possível formar a frase “o Grande Irmão é inbom”, mas não era possível sustentar com palavras do idioma essa frase, pois o vocabulário necessário já não estava mais disponível.
A população da Oceania já não escrevia mais cartas, comprava os cartões postais que vinham com mensagens prontas, não muito diferentes dos emoticons que vemos nas salas de bate papo atualmente. São as “carinhas simpáticas” que acabam por reduzir ainda mais o uso do português e também do internetês.
Então nos surge a ideia de que temos a novilíngua presente em nossas vidas após várias gerações. Com o mesmo ritmo que as palavras diminuem em nosso cotidiano através das salas de bate papo, o poder dos governantes aumenta, da mesma forma que aconteceu em 1984.
Em certa edição do jornal Folha de São Paulo foi publicada a notícia de que nos Estados Unidos foi criado um projeto para que as residências tivessem câmeras de vigilância durante 24 horas para evitar ataques terroristas.
Os governantes acreditavam que se em setembro de 2001 já existisse esse poderoso sistema, talvez as torres gêmeas ainda estivessem erguidas em seus devidos lugares. Teriam sido filmados movimentos de pessoas estrangeiras, cometendo atos considerados suspeitos, e assim essa movimentação teria sido no mínimo verificada pela polícia do país.
Esse processo talvez reduzisse realmente o número de ataques terroristas, mas seria justo a população viver sob a desconfiança vinte e quatro horas por dia? Esse ato de prevenção do governo além de tirar a privacidade do povo traria muitos prejuízos também, pois muitas pessoas inocentes poderiam ser presas.
Outro ponto a ser analisado também é que se os Estados Unidos fossem os primeiros a implantar esse sistema grandioso de vigilância, por ser um país grande e de muita influência na economia mundial, os demais países seriam levados a aderir esse sistema também.
Um mundo com todas as casas vigiadas 24 horas por dia, em que qualquer atitude suspeita seria verificada no mínimo com uma visita da polícia em nossa residência. Além das câmeras instaladas em nossas casas, as redes sociais que participamos, as nossas compras, os lugares aonde vamos, tudo o que fazemos seria vigiado, a nossa liberdade fugiria de nossas mãos assim como aconteceu com Winston e os demais habitantes da Oceania na obra de George Orwell.
Conclusão
O uso da tecnologia para controlar a população torna-se cada vez mais comum em nossa sociedade. Além dos exemplos citados nesta análise, existem vários outros casos que podemos refletir e concluir que a situação torna-se assustadora com o passar do tempo.
A novilíngua está presente abundantemente em nosso país, governantes querem aumentar o número de câmeras nas ruas e pessoas que nem conhecemos podem saber onde estamos e o que fazemos através das redes sociais. Estamos sempre sendo vigiados por alguém de certa forma, até mesmo por um amigo que olha o nosso twitter e sabe o que estamos fazendo através dessa rede social.
A realidade da obra 1984 está presente em nossa sociedade, talvez de uma forma menos concreta e chamando menos a atenção da população, mas é dessa forma que o governo aumenta cada vez mais o seu poder e diminui mais rapidamente o interesse da população por política, fazendo com que o povo não enxergue a real situação presente em nosso cotidiano, da mesma forma que o Partido liderado pelo Grande Irmão fez no livro 1984.
Referências Bibliográficas
http://www.adventistas.com/janeiro2003/clipping_bush_iao.htm
1984, George Orwell, Editora Companhia das Letras.
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