Introdução
Desenvolver
uma análise para obra 1984 de George Orwell não é uma tarefa simples. A obra
trata de um épico que não é apenas uma temática especifica, mas sim um ideal
construído dentro do livro de um mundo comandado pelo totalitarismo a ponto de
abranger várias outras temáticas relacionadas na mesma obra. O livro se passa
dentro de uma Oceania fictícia que é constituída por vários continentes e
controlada por um Partido, um governo totalitarista que se encontra em uma
continua guerra contra Eurásia (ou será Lestásia?), tendo o Partido como lema: “Liberdade
é Escravidão”, onde todos os homens, mulheres e crianças são rigidamente
vigiados a fim de manter o continente inteiro sobre o seu controle.
Acredito
que para desenvolver a análise, primeiramente, deve-se situar a época histórica,
seus temas e seus termos. A história apresenta
Winston, um dos muitos cidadãos da Oceania que se encontra sobre o governo
totalitarista do Partido que começa a desenvolver crimideia (termo na
Novilíngua para todo pensamento desaprovado pelo partido) e logo escrever um
diário (que geralmente é comum meio de narrativa em livros, mas não o caso). Ao
decorrer da história, ele se envolve com Júlia, sua amante na segunda metade do
livro, com a qual compartilha do seu ódio ao Partido, e O’Brien, suposto agente
da Confraria que visa destruir o Partido. A escolha de confiar em O’Brien e
Mr.Charrington (o senhor de uma loja que
na verdade era um agente da Polícia do Pensamento) foi a ruina de Winston, que
é capturado junto a Júlia e torturado por O’Brien, fazendo-o aceitar o ideal de
2+2=5, que representa de certa maneira, a completa modelagem do humano em um
membro do Partido, aceitando cegamente seus ideais e amando o “ícone” do
Partido, o Grande Irmão.
Temáticas
O
principal tema do livro é o totalitarismo, o controle, o poder de imposição.
Todo ser humano dentro daquele governo era monitorado, todo dia, toda hora. Para
mim, certamente a descrição da maneira de como fazem todo o mundo acreditar em
suas mentiras e em seu poder onipresente são certamente minhas partes favoritas
do livro. O duplipensamento não é apenas presente na mente das personagens, mas
de certo modo, nas personagens em si. Através da história você tem o ponto de
vista de Winston que dá o contraste às mentiras, aos “vilões”, às invenções que
eles criam para passar por heróis ao mesmo tempo em que elevam a imagem do
Grande Irmão a um nível de Deus e logo, a razão da existente guerra entre as
potências. Ao mesmo tempo em que você vê essas mentiras, você tem um pequeno
foco daqueles que acreditam nestas mentiras, como exemplo, as crianças
fanáticas, cujas ações relembram bastante o totalitarismo nazista durante a Segunda
Guerra, onde a mente delas foram feitas a ponto de denunciar a própria família quando
eles levantassem qualquer suspeita que seus membros fossem contra as ideias do
governo Nazista. Esse mesmo exemplo citado ocorre no livro com o Sr.Parsons,
que por mais “membro exemplar” do Partido, iludido completamente, começara a
falar enquanto dormia algo que seus filhos denunciaram rapidamente.
Relembrando
Parsons, a certo ponto, chega ser cômico ver como a personagem, mesmo que
inconscientemente, tinha o desejo de que ocorresse o “abaixo ao Grande Irmão”.
Seu pensamento era de que esta ideia era apenas uma doença da mente e se sentia
agradecido por ter sido denunciado e preso. Orgulhoso da filha, acreditando que
o “ajudariam” e o libertariam rápido. Mas todos sabiam o que realmente acontecia.
Um ponto muito destacado pelos pensamentos de Winston é sobre como uma pessoa
se torna uma “despessoa” caso cometa “crimideia”. Crimideia não está em uma
lei, como mencionado, não é um crime de verdade, não existe uma jurisdição que a
julgue, mas ela em si não, não é um crime que cause uma pena de morte, mas sim
é a própria morte.
Ser contra os
ideais de um governo não é crime, expressar suas ideias não é crime, mas dentro
de período da ditadura, aqueles que mantinham o poder não podiam ter seus
ideais questionados, logo, como no livro, pessoas desapareciam, seus nomes
apagados e suas existências nunca mais questionadas pelas pessoas. O livro
expressa bem o ponto de vista de Winston como a pessoa que resolve ao menos
pensar contra o Partido já está perdido, de como “já está morto” no momento que
começou a pensar contra o Socing.
Duplipensamento,
crimidéia,despessoa, todos termos para outro ponto interessante do mundo criado
pelo gênio de Orwell, a Novilíngua. Provavelmente o ponto do livro que mais me
chocou no inicio da leitura, não por sua escrita diferenciada, mas em como ela
concretiza o controle do pensamento. Um dicionário que apenas diminui a cada
ano, a qual tomara o lugar da Velhafala, um que dispensa palavras
desnecessárias, opostos e logo, qualquer ideal que pudesse opor ao Partido.
Nesse ponto do livro, notei o quanto genial e poderoso o Partido realmente é.
Uma coisa é criar sua própria Inquisição, indo atrás de hereges, monitorando
dia e noite as pessoas para encontrar inimigos do Estado, mas por mais que eles
conseguissem caçar cada um daqueles que se opunham e os destruíssem, os ideais
ainda viveriam, mas a ideia da Novilíngua, isso mudaria completamente. Como as
pessoas vão referir à liberdade, quando o seu sentido não existe mais? É
maleficamente genial. O’Brien estava certo, não adianta matar o herege, tem que
fazer dele um de nós, isso se ele existir, se o ideal existir, algo que logo se
tornaria impossível.
Entretanto, o
ponto mais importante que tem mais contato com o mundo de hoje é simplesmente o
controle da mídia. George Orwell acreditou que um dia teríamos telas que transmitiriam
imagens ao mesmo tempo em que nos monitorariam. “Indesligáveis”, elas nos
vigiariam dia e noite, tocando sua programação sem parar. Sabemos que o que
acontece ao nosso redor enquanto dormirmos influencia os nossos sonhos, logo
também nossos pensamentos. Dia e noite as palavras patrióticas sobre o Partido,
entrando nos ouvidos a todo momento, realmente introduz uma maneira de lavagem
cerebral de cada cidadão na Oceania.
Um dos maiores
exemplos de lavagem cerebral realizada no livro (excluindo a tortura do
Ministério do Amor) é certamente a transmissão dos Dois Minutos de Ódio, onde
as pessoas são submetidas a filmagens do Goldestein citando seus ideais que
contrariam a ideologia do Partido, e provavelmente pela frequência e a pressão
da ideia que aqueles que seguem aquela ideologia são inimigos não só do estado,
mas das pessoas, na qual criam a imagem de um grupo de adultos gritando contra uma
tela de TV, com ódio das ideias sem pararem para pensar que as ideias
transmitidas buscavam o próprio bem deles. Ainda nesse exemplo, me lembro do
programa Balanço Geral, onde o apresentador não se contém em atirar ofensas contra
criminosos ou corruptos do nosso país. Seguindo o que parecia a mesma narrativa
sobre Winston, acabei me encontrando desferindo as mesmas palavras de nojo e
raiva sobre o indivíduo que fazia parte da reportagem, e por um momento parei
para questionar a verdadeira razão disso. A quantidade de imagens e mensagens
constituídas de pontos de vistas que acaba por influenciar a própria audiência.
Quantas vezes nossa mídia foi utilizada para degradar uma pessoa em especial,
ou um grupo, ou um estado?
O uso da
teletela não é diferente da mídia hoje em dia, mas por enquanto, temos a nossa
opção de poder desligá-la, ou trocar de canal. Mas temos outro ponto, o
controle da mídia: a censura. O livro toca nesse assunto em certas ocasiões, ou
de certa maneira, a todo o momento. A censura no livro não se baseia apenas na
questão de que pessoas não podem ter seu diário ou jornal, aliás, elas não
podem ter a menor possibilidade de se expressar. A censura não se baseia apenas na remoção de
todo conteúdo que é “perigoso” para o governo, mas também na remoção (e logo
reajuste) de pessoas que ao menos pensam em ser contra o governo. Outro fator
nesta censura é o controle de tudo que existe de informações. O Ministério da
Verdade tem a função de controlar todo tipo de informação, sendo notícias,
entretenimento, esportes ou artes, editar documentos para tornar pessoas em
“despessoas”, etc., logo entra em vigor a ideia que “quem controla o presente,
controla o passado” já quem vive o agora, pode editar coisas que aconteceram
anos atrás, “quem contra o passado, controla o futuro”, se você tem o presente
e o passado, se você está em todos os locais ao mesmo tempo, logo você é onipresente,
logo, você é um tipo de Deus. E esse é o ideal do Partido. Mas voltando as
mentiras...
Muitas vezes
lemos notícias que desfazem fatos que para nós, eram verdadeiros. Por exemplo,
havia uma notícia que vários cientistas estavam assinando sobre a inexistência
do Aquecimento Global, dizendo que toda a jogada é apenas uma maneira de
marketing para empresas poderem se passar de heróis na remoção dos gases que
eles mesmos emitem. Outro artigo que eu li outro dia desfez uma ideia que eu tinha
desde criança: não deveríamos nadar após comer; e sabe o que eu li? “Os
músculos que fazem a digestão não são os mesmos utilizados para nadar, logo o
que seus pais disseram estava errado, e se você vomitou, é algo que comeu”. Meu
mundo caiu, ou não, já que coisas que provavelmente passaríamos para os nossos
filhos, coisas que tomamos como real por muitos anos se desfaz diante da gente.
Winston
acompanhou essas mudanças, aliás, ele realizou algumas delas. Naquele mundo, o
Partido inventou o avião, inventou o helicóptero, e inventou tudo mais que ele
quiser dizer que inventou. Um dilema que foi bastante discutido. Quem criou
avião? Santos Dumont ou os Irmãos Wright? Claro, que os brasileiros tomariam nosso
Dumont como ícone da criação, enquanto os americanos tomariam os Wright. Vendo
desta maneira, o controle sobre o histórico cultural traz controle sobre a
verdade cultural. Imagine quantas coisas sabemos e quantas realmente são verdadeiras?
E ainda mais, quando temos esse tipo de notícia, quando alguém lhe diz que algo
que você sempre acreditou não é verdade, será que realmente esse é o novo fato?
A questão é que somos tão fáceis de adquirir as nossas primeiras ideias, e depois
tão difíceis aceitar novas que contradizem as nossas, e quando dado o argumento
certo, isso é fácil, mas talvez ainda assim, não é o fato certo, apenas o
melhor argumentado. Ou novamente, em palavras mais fáceis, não é porque alguém
contradiz um fato velho com respostas novas que a nova resposta está certa.
Voltando as
teletelas. A monitoração é realizada
diariamente e tudo, até uma expressão facial, pode levar uma pessoa à prisão.
Ultimamente, se há noticias que Alemães inventaram um vírus para monitorar
todos os computadores do país, outras que o Google tem informações individuais de
todo usuário que entra em contato com o seu sistema. O quão distante podemos
estar de um futuro igual aqueles? Para aqueles que viram o vídeo que o “Google
irá dominar o mundo”, dá para entender que nos dias atuais, o que falta para
esquemas de vigilância e monitoração humana é apenas a implementação de um governo
totalitarista e tadam! Só pegar os carinhas do Google e você tem privacidade de
todo ser humano em sua mão. Com o Google Earth e Street View, você tem a
localização de todos, com Gmail, todas suas conversas por email, com Youtube,
tudo que assiste, e também Orkut, toda sua vida social.
Conclusão
Algo tão
difícil quanto introduzir esta análise é concluí-la. A obra 1984 de George
Orwell é realmente um épico que consegue construir um mundo gerado de controle,
poder e um final poderoso, o final de uma pessoa normal, um ponto de vista que
gera explicações para um mundo tão sem esperança, mas não da nenhuma ao leitor
para um mundo com final feliz. O livro me faz lembrar outra obra favorita: “Blade
Runner”, que grandiosamente consegue apresentar este mundo nunca imaginado e
apresentar várias temáticas relacionadas à humanidade em si. 1984 apresenta um
mundo totalitarista, mas onde na verdade, não uma opressão, pois ela mesma é
removida da mente das pessoas, transformando por um amor patriótico, fanático
pelo Partido, da maneira que eles desejam e concretizam seu poder onipresente
na história e no mundo das pessoas. O livro, por mais que uma apenas uma idéia de um futuro feito por Orwell, se reflete em maneiras sutis ao mundo atual. Mas não devo terminar de escrever, tanto eu quanto você, estamos sendo monitorados. ABAIXO AO GRANDE IRMÃO!
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