segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um aglomerado de totalitarismo - Análise de 1984 - Bernardo Rego INF2AM

Introdução
Desenvolver uma análise para obra 1984 de George Orwell não é uma tarefa simples. A obra trata de um épico que não é apenas uma temática especifica, mas sim um ideal construído dentro do livro de um mundo comandado pelo totalitarismo a ponto de abranger várias outras temáticas relacionadas na mesma obra. O livro se passa dentro de uma Oceania fictícia que é constituída por vários continentes e controlada por um Partido, um governo totalitarista que se encontra em uma continua guerra contra Eurásia (ou será Lestásia?), tendo o Partido como lema: “Liberdade é Escravidão”, onde todos os homens, mulheres e crianças são rigidamente vigiados a fim de manter o continente inteiro sobre o seu controle.

                Acredito que para desenvolver a análise, primeiramente, deve-se situar a época histórica, seus temas e seus termos.  A história apresenta Winston, um dos muitos cidadãos da Oceania que se encontra sobre o governo totalitarista do Partido que começa a desenvolver crimideia (termo na Novilíngua para todo pensamento desaprovado pelo partido) e logo escrever um diário (que geralmente é comum meio de narrativa em livros, mas não o caso). Ao decorrer da história, ele se envolve com Júlia, sua amante na segunda metade do livro, com a qual compartilha do seu ódio ao Partido, e O’Brien, suposto agente da Confraria que visa destruir o Partido. A escolha de confiar em O’Brien e Mr.Charrington  (o senhor de uma loja que na verdade era um agente da Polícia do Pensamento) foi a ruina de Winston, que é capturado junto a Júlia e torturado por O’Brien, fazendo-o aceitar o ideal de 2+2=5, que representa de certa maneira, a completa modelagem do humano em um membro do Partido, aceitando cegamente seus ideais e amando o “ícone” do Partido, o Grande Irmão.

 Temáticas

                O principal tema do livro é o totalitarismo, o controle, o poder de imposição. Todo ser humano dentro daquele governo era monitorado, todo dia, toda hora. Para mim, certamente a descrição da maneira de como fazem todo o mundo acreditar em suas mentiras e em seu poder onipresente são certamente minhas partes favoritas do livro. O duplipensamento não é apenas presente na mente das personagens, mas de certo modo, nas personagens em si. Através da história você tem o ponto de vista de Winston que dá o contraste às mentiras, aos “vilões”, às invenções que eles criam para passar por heróis ao mesmo tempo em que elevam a imagem do Grande Irmão a um nível de Deus e logo, a razão da existente guerra entre as potências. Ao mesmo tempo em que você vê essas mentiras, você tem um pequeno foco daqueles que acreditam nestas mentiras, como exemplo, as crianças fanáticas, cujas ações relembram bastante o totalitarismo nazista durante a Segunda Guerra, onde a mente delas foram feitas a ponto de denunciar a própria família quando eles levantassem qualquer suspeita que seus membros fossem contra as ideias do governo Nazista. Esse mesmo exemplo citado ocorre no livro com o Sr.Parsons, que por mais “membro exemplar” do Partido, iludido completamente, começara a falar enquanto dormia algo que seus filhos denunciaram rapidamente.

Relembrando Parsons, a certo ponto, chega ser cômico ver como a personagem, mesmo que inconscientemente, tinha o desejo de que ocorresse o “abaixo ao Grande Irmão”. Seu pensamento era de que esta ideia era apenas uma doença da mente e se sentia agradecido por ter sido denunciado e preso. Orgulhoso da filha, acreditando que o “ajudariam” e o libertariam rápido. Mas todos sabiam o que realmente acontecia. Um ponto muito destacado pelos pensamentos de Winston é sobre como uma pessoa se torna uma “despessoa” caso cometa “crimideia”. Crimideia não está em uma lei, como mencionado, não é um crime de verdade, não existe uma jurisdição que a julgue, mas ela em si não, não é um crime que cause uma pena de morte, mas sim é a própria morte. 

Ser contra os ideais de um governo não é crime, expressar suas ideias não é crime, mas dentro de período da ditadura, aqueles que mantinham o poder não podiam ter seus ideais questionados, logo, como no livro, pessoas desapareciam, seus nomes apagados e suas existências nunca mais questionadas pelas pessoas. O livro expressa bem o ponto de vista de Winston como a pessoa que resolve ao menos pensar contra o Partido já está perdido, de como “já está morto” no momento que começou a pensar contra o Socing.

                Duplipensamento, crimidéia,despessoa, todos termos para outro ponto interessante do mundo criado pelo gênio de Orwell, a Novilíngua. Provavelmente o ponto do livro que mais me chocou no inicio da leitura, não por sua escrita diferenciada, mas em como ela concretiza o controle do pensamento. Um dicionário que apenas diminui a cada ano, a qual tomara o lugar da Velhafala, um que dispensa palavras desnecessárias, opostos e logo, qualquer ideal que pudesse opor ao Partido. Nesse ponto do livro, notei o quanto genial e poderoso o Partido realmente é. Uma coisa é criar sua própria Inquisição, indo atrás de hereges, monitorando dia e noite as pessoas para encontrar inimigos do Estado, mas por mais que eles conseguissem caçar cada um daqueles que se opunham e os destruíssem, os ideais ainda viveriam, mas a ideia da Novilíngua, isso mudaria completamente. Como as pessoas vão referir à liberdade, quando o seu sentido não existe mais? É maleficamente genial. O’Brien estava certo, não adianta matar o herege, tem que fazer dele um de nós, isso se ele existir, se o ideal existir, algo que logo se tornaria impossível.

Entretanto, o ponto mais importante que tem mais contato com o mundo de hoje é simplesmente o controle da mídia. George Orwell acreditou que um dia teríamos telas que transmitiriam imagens ao mesmo tempo em que nos monitorariam. “Indesligáveis”, elas nos vigiariam dia e noite, tocando sua programação sem parar. Sabemos que o que acontece ao nosso redor enquanto dormirmos influencia os nossos sonhos, logo também nossos pensamentos. Dia e noite as palavras patrióticas sobre o Partido, entrando nos ouvidos a todo momento, realmente introduz uma maneira de lavagem cerebral de cada cidadão na Oceania. 

Um dos maiores exemplos de lavagem cerebral realizada no livro (excluindo a tortura do Ministério do Amor) é certamente a transmissão dos Dois Minutos de Ódio, onde as pessoas são submetidas a filmagens do Goldestein citando seus ideais que contrariam a ideologia do Partido, e provavelmente pela frequência e a pressão da ideia que aqueles que seguem aquela ideologia são inimigos não só do estado, mas das pessoas, na qual criam a imagem de um grupo de adultos gritando contra uma tela de TV, com ódio das ideias sem pararem para pensar que as ideias transmitidas buscavam o próprio bem deles. Ainda nesse exemplo, me lembro do programa Balanço Geral, onde o apresentador não se contém em atirar ofensas contra criminosos ou corruptos do nosso país. Seguindo o que parecia a mesma narrativa sobre Winston, acabei me encontrando desferindo as mesmas palavras de nojo e raiva sobre o indivíduo que fazia parte da reportagem, e por um momento parei para questionar a verdadeira razão disso. A quantidade de imagens e mensagens constituídas de pontos de vistas que acaba por influenciar a própria audiência. Quantas vezes nossa mídia foi utilizada para degradar uma pessoa em especial, ou um grupo, ou um estado?
 
O uso da teletela não é diferente da mídia hoje em dia, mas por enquanto, temos a nossa opção de poder desligá-la, ou trocar de canal. Mas temos outro ponto, o controle da mídia: a censura. O livro toca nesse assunto em certas ocasiões, ou de certa maneira, a todo o momento. A censura no livro não se baseia apenas na questão de que pessoas não podem ter seu diário ou jornal, aliás, elas não podem ter a menor possibilidade de se expressar.  A censura não se baseia apenas na remoção de todo conteúdo que é “perigoso” para o governo, mas também na remoção (e logo reajuste) de pessoas que ao menos pensam em ser contra o governo. Outro fator nesta censura é o controle de tudo que existe de informações. O Ministério da Verdade tem a função de controlar todo tipo de informação, sendo notícias, entretenimento, esportes ou artes, editar documentos para tornar pessoas em “despessoas”, etc., logo entra em vigor a ideia que “quem controla o presente, controla o passado” já quem vive o agora, pode editar coisas que aconteceram anos atrás, “quem contra o passado, controla o futuro”, se você tem o presente e o passado, se você está em todos os locais ao mesmo tempo, logo você é onipresente, logo, você é um tipo de Deus. E esse é o ideal do Partido. Mas voltando as mentiras... 

Muitas vezes lemos notícias que desfazem fatos que para nós, eram verdadeiros. Por exemplo, havia uma notícia que vários cientistas estavam assinando sobre a inexistência do Aquecimento Global, dizendo que toda a jogada é apenas uma maneira de marketing para empresas poderem se passar de heróis na remoção dos gases que eles mesmos emitem. Outro artigo que eu li outro dia desfez uma ideia que eu tinha desde criança: não deveríamos nadar após comer; e sabe o que eu li? “Os músculos que fazem a digestão não são os mesmos utilizados para nadar, logo o que seus pais disseram estava errado, e se você vomitou, é algo que comeu”. Meu mundo caiu, ou não, já que coisas que provavelmente passaríamos para os nossos filhos, coisas que tomamos como real por muitos anos se desfaz diante da gente.

Winston acompanhou essas mudanças, aliás, ele realizou algumas delas. Naquele mundo, o Partido inventou o avião, inventou o helicóptero, e inventou tudo mais que ele quiser dizer que inventou. Um dilema que foi bastante discutido. Quem criou avião? Santos Dumont ou os Irmãos Wright? Claro, que os brasileiros tomariam nosso Dumont como ícone da criação, enquanto os americanos tomariam os Wright. Vendo desta maneira, o controle sobre o histórico cultural traz controle sobre a verdade cultural. Imagine quantas coisas sabemos e quantas realmente são verdadeiras? E ainda mais, quando temos esse tipo de notícia, quando alguém lhe diz que algo que você sempre acreditou não é verdade, será que realmente esse é o novo fato? A questão é que somos tão fáceis de adquirir as nossas primeiras ideias, e depois tão difíceis aceitar novas que contradizem as nossas, e quando dado o argumento certo, isso é fácil, mas talvez ainda assim, não é o fato certo, apenas o melhor argumentado. Ou novamente, em palavras mais fáceis, não é porque alguém contradiz um fato velho com respostas novas que a nova resposta está certa.

Voltando as teletelas.  A monitoração é realizada diariamente e tudo, até uma expressão facial, pode levar uma pessoa à prisão. Ultimamente, se há noticias que Alemães inventaram um vírus para monitorar todos os computadores do país, outras que o Google tem informações individuais de todo usuário que entra em contato com o seu sistema. O quão distante podemos estar de um futuro igual aqueles? Para aqueles que viram o vídeo que o “Google irá dominar o mundo”, dá para entender que nos dias atuais, o que falta para esquemas de vigilância e monitoração humana é apenas a implementação de um governo totalitarista e tadam! Só pegar os carinhas do Google e você tem privacidade de todo ser humano em sua mão. Com o Google Earth e Street View, você tem a localização de todos, com Gmail, todas suas conversas por email, com Youtube, tudo que assiste, e também Orkut, toda sua vida social. 

Conclusão

Algo tão difícil quanto introduzir esta análise é concluí-la. A obra 1984 de George Orwell é realmente um épico que consegue construir um mundo gerado de controle, poder e um final poderoso, o final de uma pessoa normal, um ponto de vista que gera explicações para um mundo tão sem esperança, mas não da nenhuma ao leitor para um mundo com final feliz. O livro me faz lembrar outra obra favorita: “Blade Runner”, que grandiosamente consegue apresentar este mundo nunca imaginado e apresentar várias temáticas relacionadas à humanidade em si. 1984 apresenta um mundo totalitarista, mas onde na verdade, não uma opressão, pois ela mesma é removida da mente das pessoas, transformando por um amor patriótico, fanático pelo Partido, da maneira que eles desejam e concretizam seu poder onipresente na história e no mundo das pessoas. O livro, por mais que uma apenas uma idéia de um futuro feito por Orwell, se reflete em maneiras sutis ao mundo atual. Mas não devo terminar de escrever, tanto eu quanto você, estamos sendo monitorados. ABAIXO AO GRANDE IRMÃO!

Nenhum comentário:

Postar um comentário